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Wu San Dji Tao "No início, a criação. O céu e a terra. Os dois se tocam formando o homem no meio do céu e da terra. A natureza e todas as coisas, o todo unido e simbolizado pelo Tao. O homem sai em busca do conhecimento. Ele o conquista e traz para si, para o seu interior, e tudo que aprende ele devolve ao mundo, através de seus atos, recebendo em troca a sabedoria. O homem aprende e abre o seu coração. E quando o coração está aberto, pleno de bondade e quietude, os pássaros vem cantar em seu jardim. Parte em busca de novas fronteiras e nessa busca procura os céus que generosamente lhe concedem mais sabedoria que ele incorpora, e procura transmitir ao mundo. Mas muitas coisas o mundo não compreende e o agride, ele se defende e retira todos os obstáculos de seu caminho. Como a cegonha, ele limpa seus obstáculos, e prossegue seu caminhar pelo mundo. E se depara então próximo ao mar. Senta à beira da praia e observa o fluir das ondas em seu contínuo ir e vir e compreende que sua vida se assemelha às ondas, em seu constante ciclo de ir e vir. Se levanta e continua o seu caminho. A seguir, começa a observar os animais. O homem que se julgava a maior e melhor obra da criação inveja a liberdade do vôo das aves, mas para a conquista desta liberdade o homem deve sair para a luta e enfrentar os desafios da vida, lutando como um tigre na floresta. Ao caminhar pela floresta o tigre não faz barulho, ele é silencioso, tão leve quanto o bater das asas de uma ave. Assim deve ser o homem e sua caminhada pelo mundo. Caminhar sem fazer barulho algum, sem fazer alarde, viver sua vida com naturalidade estando sempre em profunda perfeição. E assim continua seu caminho indo em todas as direções, buscando experiências diversas, andando, expandindo-se, interagindo com a natureza que o cerca. Mas a vida do homem é muito turbulenta e ele baila frente às dificuldades. Ora se encontra no céu ora nas mais tortuosas e profundas dores da terra, mas quando se está no fundo o único caminho é para cima. Então o homem volta-se para o céu e retorna à terra prosseguindo a sua jornada, almejando novos horizontes. Neste momento ele se encontra no ponto importantíssimo de sua caminhada. Ele se depara com uma montanha. A montanha simboliza um grande obstáculo de cada um de nós que deve ser enfrentado. O discípulo do Tai-Chi não fugirá da luta, jamais. Pois sabe que a montanha e todas as coisas que surgem no seu caminho são elementos de aprendizado para sua experiência na terra. Libera sua força e ataca como um tigre e se defende como tigre, usa energia de seu interior e a expande. Prossegue sua jornada lutando, estando sempre no limiar de situações aparentemente antagônicas. O homem agradece este presente dos céus e regressa à terra. E nisso, surge um lago de águas calmas e brilhantes simbolizando um problema do interior do guerreiro, um problema espiritual, que não pode ser enfrentado com socos e pontapés. O sábio, ao encontrar o lago, caminha com uma máxima suavidade, por sobre as águas, tornando-se leve como o vento, leve como um espírito, atravessando até chegar à sua margem e então ele olhará para o lago e para os novos horizontes. Continua o seu caminhar, porém seus passos não são como de início. São mais belos e harmoniosos apreciando novas situações. Até que o nosso caminhante se depara com o bruxo, o mago, a personificação do medo do desconhecido. O bruxo somente estará morto pela flecha da sabedoria, removendo o sentimento de terror e ignorância que caia na consciência dos homens. Depois de ter enfrentado seus fantasmas, o nosso venerável guerreiro caminha guiado pela sua consciência e encontra o monge, o mestre, o sábio, que aponta uma nova direção, mudando o seu rumo. Ele segue esta orientação tranqüilo. Porém, no terceiro passo, ele se depara com um abismo e decide saltar, retornar é o caminho dos covardes. O nosso guerreiro se encontra no fundo do abismo envolto pela escuridão e como uma serpente ele rasteja pela lama do fundo do abismo sem enxergar uma direção a seguir, rastejando; sujando-se de lama, ele percebe que, como uma serpente, deve levantar, erguer-se para avistar novos horizontes. Neste momento ocorre a morte do velho guerreiro. E o nascimento de um novo homem que observa no horizonte distante uma luz e resolve ir na sua direção, porém percebe algo estranho, quanto mais ele caminha na sua direção mais ela se afasta. Então ele pára e medita, e decide caminhar em direção oposta, caminhando para o seu interior. Procurou tanto nas coisas externas e quando ele se volta para o seu interior ocorre a iluminação. A felicidade brota no seu ser e ele está livre para alçar o vôo, como uma gota de água no oceano que se evapora, cai com a chuva formando os rios; mas não há outro destino senão retornar ao grande oceano. Liberto ele voa retornando ao lar, retornando ao grande Tao. E este homem já não sabe mais o que é o céu nem a terra, pois ele e toda a natureza, tudo que está a sua volta são uma coisa só". |
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